segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Jairinho, Janires, Pimenta e Rehder

Meus amigos preciosos,

Acordei pensando na vida . E na morte. Abri os olhos considerando o quanto tudo é efêmero e vão, o quanto certas coisas não valem a pena: ressentimento, mágoa, disse-me-disse, ganhar e gastar dinheiro, carro novo, casa maior, cargo melhor, fama, prestígio, nome...tudo vaidade, tudo fumaça, tudo um-grande-nada!

Acabei de receber um email do Jorge Camargo, amigo do meu coração, me dizendo que a ficha ainda não caiu: "Perdemos o Rehder ! "

Sim, queridos, perdemos o Rehder. Depois de perdermos o Jairinho e o Janires (acidentes automobilísticos) e Pimenta (câncer). Esses três gênios que, cada um a seu modo e visão, talento e vocação, MUDARAM O CULTO E A MÚSICA CRISTÃ EVANGÉLICA BRASILEIRA.

Jairinho, com o Paulo César da Silva, formou o Grupo Elo (pai do Logos, em 81,82...) e nos ensinou outro modo de fazer e cantar hinos, eu diria. Lembro do imenso impacto, em 1980, que o LP "Ouvi dizer" causou no meu coração de menino de 11 anos, aprendendo a tocar violão no Rio de Janeiro. A primeira apresentação do Logos no Rio, na PIB de Niterói, me tocou fundo a alma e o sonho. Janires? Esse me ensinou a compor com a mente e coração abertos, ollhando pelas janelas da vida, da cultura, sem amarras. Foi Jurado de um festival que participel em 1985, aos 15 anos e me incentivou "a continuar a fazer uma música que quase ninguém quer fazer." Ouvi o Rebanhão em fita k7 artesanal, fazíamos passeatas evangelísticas no Centro do Rio, coisa doida de boa, que tempo!

Pimenta? O que dizer desse homem de Deus, esse gênio do simples-profundo, das melodias inesquecíveis, da poesia rebuscada mas acessível, bíblica, inspirada? Esse dividiu em antes e depois de si nosso canto. Sabem, o primeiro LP que comprei na vida, aos 12,13 anos de idade, foi "De vento em popa". Ali conheci oPimenta, seu talento. Aliás, o Pimenta, o Guilherme, o Bomilcar, o tega... gente que Deus chamou pra formar toda uma geração de novos compositores, músicos e ministros de louvor (numa época que ninguém usava esse termo). A perda do Pimenta ainda foi mais traumática: 37 anos de idade! Os três nem chegaram aos 50, mas o Sérgio foi cedo demais!

O Rehder conheci em "Eram Doze "e nas muitas parcerias com o Gui. Versátil, leve, lírico, meio Boca Livre, Meio Ivan Lins, meio MPB, meio Hino, mas muito pessoal, muito variado, muito muita coisa. Depois o conheci e pasmei, ao ouvir dele: "Suas canções em ' Povo de Deus, povo missionario ' tem me abençoado demais. Posso cantá-las no Raízes? "Deus me faz cada uma! Aliás, acabei me tornando amigo da familia do Pimenta e, depois, do Rehder aqui em São Paulo, pouca, mas respeitosa, amorosa e cordial convivência, sobretudo em eventos, como a gravação do meu musical "A volta do Filho Pródigo", o LOUVALE, quando viajamos juntos para SJ dos Campos lançar a cantata (última) que ele escreveu com o Guilherme Kerr, "Consola meu povo ", na qual cantei. honrado, uma canção ("Deus de justiça ") e o Sarau da Comuna,RJ, em mio desse ano, quando o vi pela última vez ministrar. Ele chorou muito, já quebrantado pela realidade da sua enfermidade, ao ouvir minha canção "A chave é a oração", na qual digo "Eu vi o coração de Deus/Era uma chaga aberta... inguém sofre igual a Deus/De saudade, amor eterno ... ".

É, uma chaga aberta a perda do Jairinho, do Janires, do Pimenta e, ainda não acredito direito, a perda do Rehder.

Escrevo essa meditação como um lamento. Escrevo para afirmar a mim mesmo: o que é a vida? " A vida passa depressa e nós voamos". (Salmo 90.10 )

Sim, a vida voa. Isso não é clichê, é fato.

Desisto de um monte de coisas. Desisto de desperdiçar meu caríssimo tempo com coisas inúteis, repito: ressentimento, mágoa, disse-me-disse, ganhar e gastar dinheiro, carro novo, casa maior, cargo melhor, fama, prestígio, nome...tudo vaidade, tudo fumaça, tudo um-grande-nada! Quero amar e ser amado, enquanto tiver o privilegio do amor. Quero abraçar e beijar meus filhos e minha mulher, comer com meus amigos , dando boas risadas. Cantar, pregar, compor, aconselhar, servir, viver, enfim, como pastor e músico a partir da verdade que há no meu coração de 40 anos. O lixo? Eu vou jogar no lixo.


Como disse meu querido Ariovaldo Ramos uma vez ( e fiz dessa frase um lema, agora revigorado e fortalecido ), "Quero lutar não pelo que dará certo, mas pelo que vale a pena. Pior que o idealismo da juventude é o cinismo da velhice. "


É por isso que não quero perder tempo. A vida é agora. O dia, disse Jesus, é hoje. Com licença, vou viver.

Seu, de verdade.



Gérson Borges é pastor da Comunidade de Jesus em SBC, músico e poeta.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Carta do Som do Céu


Nós, músicos, artistas e líderes eclesiásticos, cristãos, vindos das variadas regiões brasileiras, estivemos reunidos entre os dias 6 a 12 de abril de 2009, no Acampamento da Mocidade Para Cristo do Brasil, dias de comemoração dos 25 anos do Som do Céu, para discutir dois temas principais: “A música e os músicos na igreja” e “A igreja como promotora de cultura”.
Agradecemos a Deus pelos dias de comunhão fraterna entre nós e pelo privilégio de ouvi-lo entre as vozes pastorais e proféticas que ecoaram em nosso meio. Reconhecemos que a música cristã tem ocupado um espaço significativo em nossos dias, tanto na igreja como na sociedade em geral. No entanto, observamos que nem sempre essa participação tem sido consistente e coerente com a Palavra de Deus – nosso referencial maior – nem rendido glórias ao Senhor da Igreja. Desejamos, portanto, apresentar à Igreja brasileira a “Carta do Som do Céu”, sintetizada em 25 pontos, que resume nossas inquietações e propõe ações práticas à Igreja de Cristo Jesus, nesse princípio de século XXI:

1. O artista cristão deve desenvolver o seu dom criativo e submetê-lo exclusivamente aos valores da Palavra de Deus;
2. Cremos que a arte, na perspectiva da graça comum, é um presente dos céus a toda humanidade e não está restrita aos cristãos;
3. Desejamos que haja coerência entre a vida, o ministério e a profissão do artista cristão, cujo discurso deve estar aliado à sua prática;
4. Esperamos que o artista cristão busque servir a Deus e à sociedade com excelência e integridade, dedicando-se ao desenvolvimento dos talentos e dos dons recebidos do alto;
5. A igreja precisa estar atenta ao artista cristão como parte do rebanho de Deus e dar a ele a atenção devida, despida de preconceitos, e oferecer-lhe pastoreio e discipulado, objetivando a sua formação espiritual e ética;
6. Esperamos que o artista cristão esteja envolvido em uma igreja local, servindo-a e amando-a como Corpo de Cristo. Deve ser rejeitada toda e qualquer tentativa de desenvolvimento de uma fé individualista e distante da comunidade;
7. Reafirmamos que a elaboração de textos e letras deve ter embasamento nos valores da Palavra de Deus;
8. Comprometemo-nos a dedicar atenção e reflexão às canções que são introduzidas no culto de adoração e nas demais atividades da igreja, buscando um repertório equilibrado e consciente e evitando, de todas as formas, que heresias e desvios teológicos adentrem sutilmente em nossas comunidades;
9. As igrejas, as instituições de ensino teológico e os artistas cristãos devem combater o ensinamento equivocado e amplamente difundido de que louvor e adoração restringem-se à musica, ensinando, por demonstração e exemplo, que se trata de um estilo de vida que envolve todas as áreas da nossa existência e que a música, assim como outras formas de arte, é expressão legítima de louvor e adoração;
10. A igreja deve agir como facilitadora na adoração e abrir espaço para que todos expressem seu louvor a Deus;
11. Esperamos que o músico cristão busque e desenvolva a santidade, vivendo uma vida piedosa, tanto no serviço prestado a Deus na igreja, quanto fora dela, em sua atividade profissional;
12. Rejeitamos a dicotomia que faz separação entre o sagrado e o secular e cria espaços estanques na vida do cristão. O Senhor Jesus é soberano e governa todas as instâncias da vida, e, por isso, devemos somente a ele a nossa fidelidade, agradando-o em tudo e rejeitando tão-somente o que ofende a sua glória;
13. A Igreja não se pode esquivar de sua responsabilidade diante da cultura na qual está inserida; deve mentoriar a reflexão e a prática de uma teologia de arte e cultura;
14. Incentivamos as igrejas a abrir suas dependências para a realização de eventos culturais como exposições, mostras, cursos, saraus e outras atividades visando à educação, à divulgação e à aproximação da sociedade;
15. Mesmo entendendo que todo trabalho na igreja é voluntário, podemos honrar com sustento ou remuneração aqueles que se dedicam ao ministério musical, se a comunidade disponibiliza de recursos para tal;
16. Entendemos que nossa arte deve encarnar uma voz profética e manifestar em seu conteúdo os valores do Reino;
17. Recomendamos que as igrejas promovam encontros de reflexão sobre a utilização das artes no Reino de Deus, capacitando os artistas para a realização de seu trabalho;
18. Incentivamos os músicos a expressar em sua arte a beleza de Deus por meio de uma contextualização e diversidade musical;
19. Reconhecemos o caráter essencialmente transformador e questionador da nossa arte e não cremos que ela deva estar a serviço do mercado;
20. Muito embora os artistas cristãos não se devam render aos senhores da mídia, tornando-se reféns desta, podem utilizar de maneira ética os meios de comunicação como canal para a divulgação de sua arte, proclamando, assim, o Reino de Deus;
21. No que se refere ao relacionamento entre os músicos e a liderança eclesiástica, encorajamos o diálogo, o respeito e o reconhecimento mútuo de seus ministérios como algo dado por Deus;
22. Incentivamos que os artistas cristãos busquem perante o Estado e a iniciativa privada recursos para a promoção de sua arte por meio de leis de incentivo à cultura, editais para financiamento de projetos culturais etc.
23. Encorajamos as igrejas a investir na educação e na formação de artistas;
24. Propomos que as igrejas e as instituições de ensino teológico incentivem as diversas manifestações artísticas e não somente a área musical;
25. Compreendemos que o ofício de artista é legítimo como tantos outros, podendo ser exercido pelo artista cristão no mercado de trabalho e devendo ser apoiado e incentivado pelas comunidades cristãs.

São Sebastião das Águas Claras, 9 de abril de 2009.
Assinam:
Debatedores:

Aristeu de Oliveira Pires Junior – Canela (RS)
Carlinhos Veiga – Brasília (DF)
Denise Bahiense – Rio de Janeiro (RJ)
Erlon de Oliveira – Belo Horizonte (MG)
Gladir Cabral – Florianópolis (SC)
João Alexandre Silveira – Campinas (SP)
Jorge Camargo – São Paulo (SP)
Jorge Redher – São Paulo (SP)
Marcos André Fernandes – Garanhuns (PE)
Marlene F. Vasques – Goiânia (GO)
Nelson Marialva Bomilcar – São Paulo (SP)
Paulo César da Silva – São José dos Campos (SP)
Romero Fonseca – Goiânia (GO)
Rubão Rodrigues Lima – Brasília (DF)
Sérgio Paulo de Andrade Pereira – Ribeirão Preto (SP)
Wesley Vasques – Goiânia (G
O)

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Música Gospel: o Ópio do povo



Esta semana lembrava-me quando fui cursar Sociologia na UFPB, lembro-me do impacto entusiasmático que tive quando me deparei com o Manifesto Comunista, com as idéias de Karl Marx, Hegel, Weber...Aquilo veio como ponto de confronto a todo conhecimento que tinha absorvido durante minha caminhada cristã. Ora, até certo ponto curti a idéia, embora verde ainda, imatura, de que o Comunismo de Marx era similar ao de Cristo. Cristo Comunista?! Sim, era essa a ideia que rebatia diariamente em minha cabeça. Afinal, somos filhos das Justiça, e Jesus foi, diga-se de passagem, um exemplo vivo de inconformidade com sistema com o qual se relacionou (Mateus 5). O grande tiro de misericórdia pra mim foi quando li a famosa frase: "A Religião é o ópio do Povo ", poxa vida, aquilo desmoronou toda minha euforia pelas Ciências Sociais marxistas. Abolir a Religião? E a minha? O que fazer pra ser comunista e ser Cristão ao mesmo tempo?
O fato é que hoje, após 6 anos, posso pensar não mais como menino, posso dizer que já faço digestão de comida pesada e não só de leite. Karl Maxr era inconformado com seu século, e principalmente com a burguesia que oprimia a classe operária na promessa de que embora suas vidas fossem tão sofridas, tão usadas pelos patrões, num futuro, noutra vida, com certeza seriam recompensados com uma vida infinitamente melhor. A Religião os prendiam de qualquer revolta, os amorteciam de qualquer indagação, os anestesiavam em apenas olhar para o alto e esquecer que a vida tão preciosa se prolongava por fraqueza e logo teria m um encontro com a morte. A Religião também acomodava os ricos, eles também se limitavam a olhar para o alto, agradecer a Deus por suas riquezas e se abnegavam a acolher horizontalmente os necessitados e explorados pelas fábricas capitalistas.
Hoje parece-me que tudo se repete. Assim como o sábio Salomão nos alertou, nada há de novo debaixo do Sol, as coisas vão e voltam despercebidamente. Vejo atualmente um mercado denominado Gospel, que por coincidência, ou não, coabita com o capitalismo consumista, que em dias atuais ainda insiste em oferecer ópio aos crentes "indefesos", desprovidos de teor questionador quanto ao que se come, ao que se bebe, e ao que se esculta (me refiro a música). Chamo essa música midiática de ópio por alguns motivos evidentes:

- Adormece o ouvimente a ponto de não fazê-lo pensar na real situação dele mesmo e da Igreja de Cristo.
- Torna-o um consumidor de músicas que lhe ofereça auto-estima, e não a raíz do Evangelho genuíno.
- Não prepara o ouvinte para passar por dificuldades, mas sim para fugir delas.
- Não se satisfaz em adorar a Deus pelo que Ele é, mas sim pelo que Ele faz e pode fazer em suas vidas.
- É a barganha de um "Vencedor" perdido que luta para ser um rico, e não para ajudar os pobres. (Mais BemAventurado é dar do que receber Atos 20:35)
- Ela Vicia. O ouvinte passa a ouvir a música que gosta de ouvir, e não a que precisa ouvir.
- Não se preocupa com a integridade teológica, mas se vai ou não cair na graça do povo, vender muito e abastecer o mercado gospel.

WELCOME

Bem vindo ao ambiente da Música Evangélica...Não esqueça, deixe seu e mail, recado ou comentário.
Que Deus te Abençoe!

Quem sou eu

Minha foto
Tenho 26 anos, casado, cristão, Presbiteriano, Músico. Trabalho na Segurança Pública e paralelamente pesquiso músicas e Grupos Evangélicos de preferência antigos, se vc conhecer mais algum me informa...DEsde Já Agradeço!!